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sábado, 21 de novembro de 2015

A Preguiça do Nordeste

Preguiça-comum
Bradypus variegatus
É pessoal, no Nordeste tem Preguiça sim senhor!

A  Preguiça-comum, ou Preguiça-de-garganta-marrom, (Bradypus variegatus) é um mamífero herbívoro que tem distribuição ampla na América de Sul e América Central. Aqui no Nordeste, ela pode ser encontrada em áreas remanescentes de Mata Atlântica.

Esses bichinhos são chamados de ‘preguiças’, porque eles passam entre 14 e 16 horas do dia dormindo! Isso mesmo! 

É muito fácil reconhecer uma Preguiça: elas são mamíferos de tamanho médio, com coloração marrom-acinzentada. Os braços são bastante longos e cada mão conta com três longas garras que permitem a preguiça ficar suspensa nos galhos das árvores. Elas também podem ficar um pouco esverdeadas graças à presença de algas na sua pelagem.

Também é simples saber se uma preguiça é macho ou fêmea: os machos sempre possuem um círculo nas costas, formado por pelos pretos no interior e amarelados na borda.

Macho de Preguiça-comum
Detalhe para a mancha nas costas
As preguiças têm uma taxa metabólica baixa, e por isso se locomovem bem devagar. Esses movimentos lentos, juntamente com a coloração esverdeada, permitem que as preguiças se camuflem entre as folhas das árvores. Por isso, elas conseguem se proteger de predadores como o Gavião-real (Harpia harpyja). 

Esses mamíferos são territorialistas e geralmente apenas uma preguiça adulta é encontrada por árvore. Além disso, os adultos interagem pouco, exceto no período reprodutivo, quando as fêmeas vocalizam chamando pelos machos.

Apesar da perda de habitat devido ao desmatamento da Mata Atlântica, Bradypus variegatus é considerada uma espécie Menos Preocupante pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza). Ela é considerada praticamente extinta no Estado do Ceará e totalmente extinta no Paraná.

Portanto, para conservar esse lindo e importante animal, é necessário preservar as áreas onde eles habitam e criar Áreas de Conservação no que ainda resta da exuberante Mata Atlântica.


Esse é o primeiro texto de uma série de postagens sobre os Mamíferos e Aves do Nordeste. Curtiu? Então compartilha e acompanha o nosso blog e a nossa página no facebook.


Referências:

Feijó, A. & Langguth, A. 2013. Mamíferos de médio e grande porte do Nordeste do Brasil: Distribuição e taxonomia, com descrição de novas espécies. Revista Nordestina de Biologia, v. 22, n.1/2, pp. 36-39, 2013.

Jung, H. 2011. "Bradypus variegatus" (On-line). Animal Diversity Web. Accessed November 21, 2015 at http://animaldiversity.org/accounts/Bradypus_variegatus/

Moraes-Barros, N., Chiarello, A. & Plese, T. 2014. Bradypus variegatus. The IUCN Red List of Threatened Species 2014: e.T3038A47437046. http://www.iucnredlist.org/details/3038/0. Downloaded on 21 November 2015

Xavier, G.A.A.; Mourão, GM.; Costa, J.F. & Moraes-Barros, N. de. 2015. Avaliação do Risco De Extinção de Bradypus variegatus Schinz, 1825 no Brasil. Processo de avaliação de risco de extinção da fauna brasileira. ICMBIo. http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/estado-de-conservacao/7116-mamiferos-bradypus-variegatus-preguica-comum.html





sexta-feira, 15 de agosto de 2014

E do outro lado do mundo?

Vamos começar com uma pergunta bem simples: Qual o primeiro animal que vem à sua cabeça quando você escuta o termo ‘marsupial’? Bem, as chances de você ter pensado em algum mamífero australiano, como os famosos cangurus e coalas, são enormes. Isso se deve ao fato desses animais serem verdadeiros ícones da ‘Land Down Under’ (Austrália) e a imagem deles tem sido divulgada através de livros didáticos e da mídia ao redor do mundo. No entanto, vale ressaltar que existem marsupiais na Papua Nova Guiné (um pequeno país da Oceania, ao norte do território australiano) bem como na América do Sul (ver post: Os marsupiais no Brasil: presente e passado).

Monito del Monte (Dromiciops gliroids), 
a incógnita na biogeografia dos marsupiais.
Antes de mergulharmos no mundo dos marsupiais australianos, precisamos entender como os marsupiais são classificados. Os marsupiais modernos costumam ser divididos em dois grupos: Ameridelphia e Australidelphia.  Como o nome sugere, Ameridelphia inclui os marsupiais americanos (mais detalhes em: Os marsupiais no Brasil: presente e passado), enquanto Australidelphia agrupa os marsupiais da Oceania, especialmente da Austrália.

Mas como toda boa regra tem exceções, a classificação dos marsupiais não poderia ser diferente. Tudo graças a uma única espécie de marsupial, o “Monito del monte” (Dromiciops gliroides). Esse bichinho que tem uma ordem só pra ele e, apesar de viver na América do Sul (Chile e Argentina), é agrupado junto com os marsupiais australianos. Mas essa história fica para um futuro próximo.

Voltando para os marsupiais genuinamente australianos, nós podemos classifica-los em quatro grupos completamente distintos. Mas antes, vale lembrar que muitos dos nomes populares dos marsupiais australianos não tem tradução literária para o português. Devido a isso, esses nomes estão escritos entre aspas.
Demônio da Tasmânia (Sarcophilus harrisii)

O primeiro deles – e mais fascinante na minha humilde opinião – são os marsupiais carnívoros. Esse grupo apresenta uma grande diversidade de formas, as quais lembram os carnívoros placentários. Essa semelhança é fruto da Convergência Evolutiva, um processo onde diferentes animais que vivem sob condições ambientais similares, adquirem características físicas e papéis ecológicos semelhantes, no decorrer da evolução. Um bom exemplo disso é o recentemente extinto Tigre da Tasmânia (Thylacinus cynocephalus), o qual tinha a forma do corpo bastante similar à de cachorros do mato. Outra espécie bem popular dessa ordem é o Demônio da Tasmânia Sarcophilus harrisii, a maior espécie de marsupiais carnívoros existente (chegando a 65 cm de altura e pesando até 9 kg), a qual é famosa por ter inspirado o personagem de desenho animado Taz-mania. Apesar de ser denominado de ‘demônio’, os indivíduos dessa espécie só apresentam comportamento agressivo quando caçando ou competindo com outros indivíduos, sendo inofensivos e tranquilos na maior parte do tempo.
Taz-mania, personagem de desenho animado


O bizarro e singular "Marsupial Mole"
(Notoryctes typhlops)
Outro caso de convergência evolutiva vem do nosso segundo grupo de marsupiais (Notoryctemorphia), o qual contém apenas duas espécies que lembram as famosas toupeiras. Apesar da baixa diversidade, essa ordem apresenta animais extremamente especializados e bizarros. De hábito fossorial (escavador), eles apresentam inúmeras adaptações para escavação: corpo mole e que lembra um tubo, cabeça curta, boca pequena, ausência de olhos e fortes membros.

O próximo grupo inclui os marsupiais conhecidos como ‘bandicoots’ e ‘bilbies’ (Peramelemorphia). Esses animais são bastante uniformes em relação a forma do corpo: a maioria possui um corpo pequeno com focinho alongado. “Grande Bilby” ou ‘Bilby Coelho’ (Macrotis lagotis) é o representante mais distinguível e facilmente identificável desse grupo. Um fato interessante é a importância cultural dessa espécie, que é usada pelos australianos como o símbolo da Páscoa, em vez de coelhos.


Grande Bibly (Macrotis lagotis),
símbolo da Páscoa na Austrália.
O último e mais diverso grupo de marsupiais são os diprotodontes. O nome pode não ser familiar, mas essa ordem contém os marsupiais mais famosos do mundo: coalas e cangurus. Eles são chamados de diprotodontes porque eles apresentam três pares de incisivos na mandíbula superior, mas apenas um único par de incisivos na mandíbula inferior. Além disso, eles também não possuem caninos inferiores, isso limita o tipo de alimentação que eles podem assumir, sendo especialistas em dietas herbívoras ou onívoras A diversidade desse grupo é enorme não só em termos de tamanho, mas também de hábitos. Afinal, esse grupo contém animais arborícolas, planadores e saltadores, além de espécies noturnas e diurnas.

Um exemplo da diversidade de hábitos
entre os marsupiais australianos,
o planador “Sugar Glider”
(Petaurus breviceps).

Essa ordem de marsupiais é subdividida em três outros grupos. O primeiro inclui animais arborícolas que lembram primatas. Eles são conhecidos, em sua maioria, como ‘Possums’ e podem variar de animais pesando 6g, como o ‘Pequeno Possum Pigmeu’, até 4,5 kg, como os ‘Brushtail Possum’. Em seguida, temos os Coalas e os ‘Wombats’. Coalas são animais extremamente fofos, de hábito arborícola e que se alimentam basicamente de folhas de eucalipto. Eles também tem um metabolismo muito lento, dormindo incríveis 21 horas por dia! Enquanto isso, os ‘wombats’ apresentam hábito noturno, se abrigando em tocas no chão durante o dia. Finalmente, o último grupo inclui os cangurus verdadeiros, os ‘Rato-cangurus’ e os ‘Wallabies’. Esses marsupiais podem variar em muitos aspectos, desde o canguru arborícola de médio porte Dendrolagus lumholtzi até o Grande Canguru Cinza do Leste. Além disso, cangurus e wallabies apresentam uma característica bem peculiar: a cauda deles é espessa e bastante pesada, sendo utilizada como um quinto membro e colaborando para o salto desses animais. Enquanto os tendões das pernas impulsionam o salto do canguru, a cauda é usada para estabilizar esse movimento.

Diprotodon optatum, o maior marsupial da história
Anne Musser © Australian Museum
(Fonte: Australian Museum Website)

Você deve estar pensando que a Austrália tem uma diversidade suficiente de marsupiais, mas se nós olharmos para o registro fóssil, essa diversidade fica ainda maior. Basta dar uma olhadinha no gigante Diprotodon, um marsupial quadrúpede e herbívoro, que viveu durante o Plioceno. Esse animal podia alcançar impressionantes 4 m de comprimento e pesar até 2800 kg de peso, o que classifica Diprotodon como o maior marsupial conhecido! Não menos surpreendente, temos o “Marsupial Lion” (Thylacoleo carnifex), considerado o maior marsupial carnívoro da Austrália, que viveu no Pleistoceno. Além disso, estudos revelam que esse animal teve a mordida mais poderosa entre todos os mamíferos já existentes!

“Marsupial Lion” (Thylacoleo carnifex).
Anne Musser © Australian Museum (Fonte: Australian Museum Website)

Muitas hipóteses tem sido propostas para explicar a extinção da megafauna australiana, contudo, a mais aceita assume que mudanças climáticas foram a principal causa. Acredita-se que com o fim da última Era do Gelo, que ocorreu no Pleistoceno tardio, o clima da Austrália se tornou mais seco e as fontes de água, mais escassas. As espécies da Megafauna tiveram sua distribuição restrita a áreas no leste da Austrália por algum tempo, até serem completamente extintas.

A diversidade de marsupiais na Austrália é, sem dúvida, a maior do mundo. Mas, será que a história desse grupo começou na “Land Down Under”? Isso são cenas para os próximos capítulos.


Referências:
Vaughan, T. A.; Ryan, J. A. & Czaplewski, N. J. (2011). Mammalogy. 5 ed. Estados Unidos, Jones and Barlett Publishers. 650p.
Menkhorst, P.; Knight, F. (2011). A Field Guide to the Mammals of Australia. 3 ed. Melbourne, Oxford University Press. 274p.
Australian Museum Website. Mammals – Extinct Australia Mammals. Disponível em <http://australianmuseum.net.au/> Acessado em: 13 de Agosto de 2014.
Jones, M. E.; Dickman, C. R.; Archer, M. eds. (2003). Predators with pouches: The Biology of Carnivorous Marsupials. CSIRO Publishing, Collingwood.
University of Michigan, Museum of Zoology. Animal Diversity Web. Disponível em <http://animaldiversity.ummz.umich.edu/> Acessado em: 13 de Agosto de 2014.